Lankhmar é uma aventura de RPG em literatura
Lankhmar está sendo lançado em português pela Retropunk Editora, e resolvemos escrever aqui não apenas para fazer propaganda, mas para catequizá-los nesse gênero de histórias muito legal. Minha tese é que você não vai achar histórias mais de RPG que nas páginas das histórias de Fafhrd e Gray Mouser, e é dai que você deve se inspirar. Pra mim, Lankhmar é uma aventura de RPG em forma de literatura.
Pulp, que fique claro, muito do RPG vem de literatura pulp, como Conan o Bárbaro, Cthulhu e todo o Lovecratf, Tarzan, e as histórias de detetive que inspiraram o filme Pulp Fiction. E um dos autores mais empolgados com a formação do D&D e outros RPGs foi o Fritz Lieber, o cara por trás dessas histórias.
“Um dos motivos originais para conceber Fafhrd e o Gatuno foi ter uma dupla de heróis de fantasia que ficassem mais próximos de seres humanos que super-homens como Conan e Tarzan, e muitos outros. De certa forma eles são uma mistura de Cabell e Eddison, se procurarmos um ancestral literário. Fafhrd e o Gatuno têm um toque do cinismo de Jurgen e de anti-romantismo, mas eles seguem entrando em aventuras – mais uma rolagem de dados contra o destino e a morte… eles são ladinos num mundo decadente onde você tem de ser ladino para sobreviver…” (introdução a Swords of Lankhmar)
Ele inclusive trabalhou com a TSR para fazer um jogo, participou da Gencon quando ainda era pequena, e viu todas as publicações de Lankhmar para D&D que saíram entre os anos 80-90. Hoje em dia temos dois RPGs de Lankhmar, e já existiram outros dois, inclusive a versão oficial para AD&D 2a Edição.
E não importa muito o sistema de jogo que você queira usar, aposto que esses livros vão te ajudar a construir histórias legais. Eu tenho todas as versões de Lankhmar, e continuo usando muitos sistemas para as histórias… inclusive Savage Worlds.
A primeira história é de 1939, e a última de 1988. Ele fez parte do famoso Apêndice N original, as recomendações de leitura que vieram no Dungeon Master Guide em 1979, e se você hoje joga com um ladino em seus jogos, é por causa desse personagem, o Grey Mouser. Aragorn era o Ranger, Conan o Bárbaro, e nessa arqueologia você pode achar tudo em literatura, o mais famoso sendo o sistema de magia, inspirado nas histórias de Jack Vance, uma história que pretendo contar por aqui.
Se a gente brinca que toda aventura de RPG começa numa taverna, é porque as histórias de Fafhrd e Gray Mouser sempre começam na Silver Eel, uma taverna onde também comecei muitas das minhas aventuras em Lankhmar. E a “Enguia de Prata” agora vai estar disponível em português pra gente recomeçar. O livro básico é muito genérico, e isso é facilitado pelo sistema em que ele foi feito, o Savage Worlds, que é um RPG em que se pode fazer tudo a partir de apêndices.
Do primeiro livro você pega todo o sentimento do cenário, tem essa resenha do Pontos de Experiência que explica tintim por tintim. O que depois você pode completar lendo os romances, que são mesmo geniais. Tem histórias épicas como as de Elric ou Frodo, quando eles atravessam o mundo para cumprir uma maldição, mas a maioria são pequenos trabalhos nas cidades, lidando com a famosa e primeira guilda de ladrões, com sociedades secretas e cultistas, templos de deuses maléficos, múmias de ladrões famosos, e tavernas, muitas tavernas.
Lankhmar é uma cidade, e o nome do jogo, por isso o RPG se chama assim. Um lugar onde ninguém deve confiar em magia, muito menos em magos, e os de Lankhmar são muito legais. Quando a gente fala em um cenário low magic, é nisso que estamos falando. Fazer um feitiço é arriscar muito, e quem faz sofre consequências, muitas vezes no próprio corpo, mas também arrisca conseguir um grande poder. Vide Ningauble dos Sete Olhos e Sheelba da Face sem Olhos, dois dos melhores feiticeiros em todo o gênero de fantasia.
Cidades de fantasia pulp são lugares misteriosos em que o perigo está sempre à espreita. Na verdade, a própria cidade é um perigo, com seus perfumes exóticos, bazares estranhos, gente para todo lado. E Lankhmar tem muitos nomes, Cidade dos Ladrões, Cidade de Sete Vezes Mil Névoas, Cidade da Toga Negra…
Minha melhor aventura foi com meus amigos no final da faculdade. Num certo momento eles estavam investigando o desaparecimento da filha de um ferreiro, e desconfiaram que ele mesmo poderia estar envolvido. À noite bateram na porta dele, “ô ferreeeeiroooo”, e quando ele abriu já foram logo para cima, atacando ele e batendo. Enrolaram ele num tapete e levaram para a loja de tapetes de onde operavam os personagens.
Satisfeitos com o interrogatório, devolveram o homem todo espancado na oficina. Eles acabaram achando a garota, e o pai era culpado de ter se envolvido com os ladrões de Lankhmar, mas não do sequestro. Uma coisa dessas não pode ficar impune, e o ferreiro reuniu todo o dinheiro que tinha e contratou homens para sua vingança, espancar cada um deles… e seguiu fazendo isso.
Esse foi o tempo de grande aventura, em que meus amigos recuperaram dedos mágicos que davam poderes aos ladrões, se embrenharam em pântanos atrás da origem de uma magia funesta, acabaram com um templo de ratos, explodiram a guilda de ladrões, e despertaram os deuses mortos de Lankhmar…
Uma lista de histórias que você deve procurar agora mesmo:
- Ill Met in Lankhmar
- The Jewels in the Forest
- Thieves’ House
- The Bleak Shore
- The Howling Tower
- The Sunken Land
- The Seven Black Priests
- Claws of the Night
- Lean Times in Lankhmar
- Adept’s Gambit
- The Swords of Lankhmar
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