Os 40 anos da publicação do Feiticeiro da Montanha de Fogo
Era dia 27 de agosto de 1982, uma sexta-feira em que as temperaturas começavam a cair no Reino Unido, quando a primeira edição do livro O Feiticeiro da Montanha de Fogo foi publicado na Inglaterra. Naquele dia, nem Steve Jackson ou Ian Livingston poderiam imaginar o sucesso que o livro alcançaria e o impacto que a coleção Fighting Fantasy causaria no RPG por todo o mundo.
Mas antes de chegar até a publicação, precisamos voltar um pouco à história, pois as aventuras fantásticas (como a coleção de livros ficou conhecida aqui no Brasil) tiveram um caminho longo de maturação antes de fazer lenda! Em 1960 a família Livingstone se mudou para a cidade de Altrincham (Inglaterra), e na escola de ensino fundamental os jovens Ian e Steve se conheceram e passaram a ser grandes amigos e parceiros de jogos de tabuleiro.
Em 1972 ambos estavam inseridos do mercado de jogos com trabalhos freelancers para revistas diferentes, enquanto ampliavam a troca de experiências com jogadores de outras cidades e diferentes boardgames – em 73 Jackson chegou a viajar pelos EUA e retornar com vários jogos da editora Avalon Hill na bagagem. Mas o grande ponto que marca essa história foi a publicação de Dungeons and Dragons no ano de 1974.
Com a primeira edição de D&D em mãos e uma juventude regada à partidas de campanhas militares e guerras, além de literatura de ficção científica, fantasia clássica (e muito Tolkien) e revistas da Marvel Comics, foi fácil entender porque Ian e Steve resolveram investir em uma empresa do ramo. Assim, em 1975, surgiu a Games Workshop, que passaria a ser a responsável exclusiva pela distribuição de D&D na Europa. E por dois anos a loja funcionou apenas com estoques dentro do apartamento que era dividido pelos dois e mais um amigo de infância, John Peake – que no ano seguinte abandonaria a empresa e o apartamento.
Com o crescimento dos negócios, em 1978 os dois abrem a primeira loja física da Games Workshop (até 2012 possuía 400 lojas por todo o mundo). Então durante dois anos o trabalho foi cada vez mais se voltando com exclusividade ao RPG até que em 1980, Livingstone e Jackson conhecem Geraldine Cooke, o jovem editor da Penguin Books, que estava procurando por algo que somasse fantasia, ficção científica e horror no catálogo da editora. Segundo Cooke, a ideia era encontrar algo “parecido com as loucuras de D&D, mas que pudesse sair do nicho de poucos jogadores de RPG para conquistar mais pessoas”.
Com a oportunidade em mãos, Ian Livingstone e Steve Jackson passaram a revisitar seus rascunhos de aventuras e histórias para dar forma a um tipo diferente de livro-jogo, uma vez que esse modelo de literatura já existia, mas ainda não exatamente da forma seria imortalizada pela dupla (o rpg Tunnels and Trolls e o próprio D&D publicaram livros-jogo antes de Fighting Fantasy). Assim, em 1981 foi apresentado um primeiro projeto para a editora Penguin Books que apesar de ter gostado da proposta, solicitou alterações. Então os próximos meses foram de intensa produção até finalizarem o Feiticeiro da Montanha de Fogo.
Com um sistema simples de três atributos (ou características), o jogo foi pensado para ser intuitivo mesmo para aquelas pessoas que nunca haviam jogado nenhum tipo de RPG na vida, com possibilidades de inúmeras escolhas, uma boa história e com a facilidade de não precisar de um grupo para jogar o livro. “Era preciso manter as decisões e os combates bem rápidos para que a continuidade da história não fosse interrompida por muito tempo”, afirmou Livingstone.
Durante o processo de criação, foram muitos debates para saber como guiar e orientar o sistema de jogo que envolvesse a história com esse formato. Então ficou a cargo de Ian começar a história e seguir até mais da metade enquanto Steve cuidaria de afinar as regras e do encerramento da aventura. “Quando entregamos o um dos últimos rascunhos para a editora, era óbvio que o estilo de escrita das duas partes era diferente, então meu trabalho se concentrou em deixar aquilo tudo funcionando enquanto Ian avançava com as ideias”, explicou Jackson.
Então, dentre diversos detalhes, problemas e curiosidades que marcaram o desenvolvimento desse primeiro livro, sua publicação gerou um dos maiores nomes do RPG de fantasia até hoje. O Feiticeiro da Montanha de Fogo logo se tornou um dos livros de fantasia mais lidos no Reino Unido e traduzido para 17 países e vendas acima de 15 milhões de exemplares. Hoje são 40 anos de incríveis histórias de fantasia, um verdadeiro legado de aventuras fantásticas.
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Gian Rech
Fera esse artigo, mestre Janary!
Quero aproveitar pra dizer que conheci o conceito de livro-jogo de RPG graças ao podcast do D30 (em especial o mais recente – e ótimo! – , com a Daielyn Cris) e me amarrei de imediato! É o tipo de coisa que eu gostaria de ter vivenciado na minha infância… e por isso mesmo que, não deu nem uma semana, eu estava no site da Jambô comprando cinco títulos do Aventuras Fantásticas (entre eles, a trilogia da Montanha de Fogo) pra já introduzir minha filha na “idade certa”, haha!
Um abraço pra vocês todos, galera. Obrigado pelo trabalho excelente e inspirador que vocês fazem pelo RPG do quadradinho!
Janary Damacena
Fala, Gian. Tudo bom? Eu fico muito feliz em saber que o podcast e o site colaboraram para essa boa descoberta que são os livros-jogo. Eu acredito que esses livrinhos são um estímulo entrar na literatura, em especial a fantasia, aos jogos de RPG. Espero que sua filha curta bastante! Meus dois filhos tem uma boa relação com a série, sendo que mais velho com 16 anos está montando a coleção dele e o mais novo, está com 6, pede para ouvir as histórias. Obrigado pelo comentário 🙂
Grande abraço