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A difícil arte de mestrar para garotas

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Todo mundo sabe que meninas se interessam também por RPG. Não é à toa que as convenções geeks por aí e os encontros do D30 têm sempre um público feminino considerável. Mas, ao mesmo tempo, garotas são famosas por serem um pouco dispersas nos jogos e por não gostarem de qualquer tipo de RPG.

Minha ideia aqui é desmistificar isso de que mulher não gosta de RPG, com base na experiência que tive em um jogo só de garotas, e deixar algumas dicas para quem for mestrar para meninas ou com grupos mistos.

A experiência
Meu melhor jogo do ponto de vista feminino foi um de Mage narrado pelo Júlio para as amigas Rita, Karina, Lilian, Daphne e eu. O cenário era Constantinopla e havia um grande espaço para fadas, lobisomens e outras criaturas místicas. A personagem central era a Rita, uma maga princesa, que tinha um grupo de amigas com habilidades mágicas.

O que fazia esse jogo diferente dos outros então? Em primeiro lugar, as descrições. Sempre ricas e detalhadas, não só dos cenários, mas também dos personagens e das emoções. A ênfase nos diálogos, sempre interpretados e levados a sério pelo grupo também era fundamental para ser quase um filme onde todo mundo permanecia empolgado.

Em segundo lugar, as batalhas. Apenas uma ou duas por jogo, bem épicas, com poucas e decisivas rolagens de dado e muito roleplay para fazer as coisas.

Em terceiro, claro, o romance. Não aquela coisa piegas de beijoca pra lá, beijoca pra lá, namorado da fulana e coisa e tal, mas uma coisa mais de corte mesmo, com troca de olhares, coisas subentendidas e muitos sentimentos envolvidos. Como o jogo se passava em um castelo, havia espaço para bailes e vários eventos. E para todo o tipo de gente galante. Era possível planejar roupas e fazer muita intriga, bem como muitas alianças.

Para se ter uma idéia, a Rita chegou a comprar um livrinho com roupas de época  de Constantinopla e ficávamos um tempão antes do jogo planejando que roupa íamos usar, em detalhes, com os tecidos e tudo (chato para os homens, incrível para a gente).

Outra coisa legal é que em todo o jogo havia invariavelmente uma parte para cada personagem se destacar, falar e interagir diretamente com os NPCs do mestre, o que fazia todo mundo se sentir valorizado no final da sessão.

Não sei se o jogo teria dado certo com homens também como players. Talvez as mulheres se sentissem intimidadas, ou fúteis demais de se prender a esses assuntos de planejar roupa e cabelo e conversar sobre os gatinhos da corte. Mas fato é esse: é disso que a gente gosta. Então, se quer jogar com menina, trata de incluir um brocado, uma descrição mais detalhada, uns diálogos reais e uns elogios sinceros e pertinentes no vocabulário do seu rei, ou ele será tão entediante quanto um goblin.

Chato mesmo é a indiferença
É uma coisa que o meu namorado sempre reclama e eu não consigo mudar. Muitas vezes passo horas fazendo a ficha do meu personagem, escolhendo a dedo cada item, a imagem e etc., e perco o interesse em algumas sessões de jogo. Por que? Porque se a minha personagem é a favorita de Mystra, ou tem um super carisma, ou é uma high-elf, isso precisa ser sempre usado pelo mestre.

É parecido com aquela coisa bem tradicional de casal, sabe? O marido chega em casa e a mulher fala. “Não notou nada de diferente, benhê?” E fica zangada se ele não percebe que ela pintou o cabelo ou comprou uma roupa nova.

Fica a dica, rapazes. No RPG ou na vida real, para conquistar a atenção das garotas, atenção aos detalhes. Miau!

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Menina Gato

Menina-gato. Fã de carterinha de RPGs medievais e de terror, gosta também de jogar no computador. Os favoritos são D&D e Cthullu.

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20 Comments:

  • Artur Bezerra (@artubis)

    setembro 13, 2011 / at 11:36 amsvgResponder

    Nossa, e estava eu aqui pensando em chamar a namorada de um amigo meu para jogar no minha futura campanha de rpg, mas estou vendo que, como meu jogo está sendo planejado, isso não daria certo mesmo. Eu já não sei nada sobre mulheres normalmente, ajustar minha campanha para abrigar vários homens e uma mulher, e agradar a todos parece quase impossível. Não ajuda também que seria minha primeira vez sendo mestre.
    Uma coisa que eu gostaria de fazer, mesmo antes de ler esse post (muito esclarecedor por sinal, parabéns), era pesquisar sobre vestimentas utilizadas nos tempos medievais, a fim de ajudar na descrição dos npcs, mas não tenho tido sucesso.

    • ML

      setembro 13, 2011 / at 11:43 amsvgResponder

      Artur, não é que seja mais difícil não. acho que incluir descrições e personagens mais profundos melhora qualquer jogo de rpg! e isso se torna essencial se você vai jogar com gente que não quer apenas rolar dados e matar monstros, caso da maioria das meninas…

      aliás, nada contra rolar dados e matar monstros, adoro! mas tem mais no rpg que isso, admito. 🙂

    • menina-gato

      setembro 13, 2011 / at 2:56 pmsvgResponder

      Arthur…. Tenta! Não é que meninas não gostem de matar monstros. Se fosse assim, não tinha tanta garota jogando WOW. Você pode incluir alguns detalhes como descrições e tal e tentar dar espaço para que a menina aça o roleplay direto com os personagens do mestre. Minha preocupação maior é que meninas novatas as vezes assustam com o jogo e ficam intimidadas. Sobre a descrição dos NPCs, procura no google em inglês, tem muita coisa legal.

  • Jhenni

    setembro 13, 2011 / at 1:32 pmsvgResponder

    Nossa… Fiquei morrendo de vontade de jogar esse RPG *-* Deve ter sido lindo!!!
    Mas realmente, mulheres preferem um RPG mais virado para interpretação …
    Vcs podem ver… O que faz mais sucesso entre elas é o Vampiro: A Máscara, por ter mais interpretação, sedução e manipulação.
    E já vi muitas “torcerem o nariz” ao falar de D&D, que aquele tipo de jogo: mate o monstro, salve a princesa e faça pilhagem…

    Mulheres Amam detalhes!!!

    • menina-gato

      setembro 13, 2011 / at 3:02 pmsvgResponder

      Oi Jhenni! Eu também acho isso. Claro que não é uma regra, né? Mas nada como um pouco de atenção e sedução para deixar uma mulher mais feliz. Olha a mulherada ai animada, vamos tentar, gente. 🙂

  • Daphne

    setembro 13, 2011 / at 3:50 pmsvgResponder

    a Menina-gato acertou em cheio ao escrever esse texto!! (eu sou a Daphne que ela menciona!)
    só um adendo: o Mestre de um grupo só de meninas tem que ter muita paciencia! nao é só que as garotas tendem a ser dispersas, mas é divertido sair numa tangente! as vezes acontece que, ao falar da roupa da personagem, se lembra do filme tal e fala daquela mulher, do cara, faz uma piada, etc … as vezes uma tangente dessas demora meia hora!!
    se o nosso mestre ficasse puto com cada escapada dessas, o nosso grupo nao teria dado certo!

  • Luiz Alface

    setembro 13, 2011 / at 10:27 pmsvgResponder

    Bem, na verdade isso que você falou que é necessário para mestrar para meninas eu acabo fazendo com todo tipo de jogador (e quando estou jogando fico esperando que o mestre faça). Gosto de detalhar as relações dos personagens, de narrar e jogar o “além aventura” do personagem etc. Tanto que meu cenário favorito é Legend of Five Rings, um cenário onde os jogos de corte são fundamentais e o drama pessoal (dever vs. sentimentos) acabam sendo o foco do cenário.
    OBS: Essa idéia de comprar um livro sobre as roupas da época é ótima! Detalhes sempre dão um sabor especial ao jogo.

    • Carol

      setembro 14, 2011 / at 7:15 amsvgResponder

      Acho que isso deixa o jogo mais rico e interessante, para qualquer jogador, não só para meninas. Por isso acho que é ótimo você fazer isso sempre.

      • menina-gato

        setembro 14, 2011 / at 9:07 amsvgResponder

        É bem verdade. Mas eu conheço gente que jura de pé junto que odeia esse tipo de coisa. E a maioria é do sexo masculino. Claro não é uma regra, mas…:)

        • Luiz Alface

          setembro 14, 2011 / at 1:39 pmsvgResponder

          Isso é verdade, para muitos jogadores esse nível de detalhamento acaba sendo taxado como chato ou inútil, preferindo deixar o tempo de jogo voltado para cenas mais heróicas ou pelo menos com mais ação. Essa é a graça do RPG, todo mundo se diverte, mas de maneiras diferentes =]

  • Carol

    setembro 14, 2011 / at 7:12 amsvgResponder

    Ótimo post, há algum tempo estava tentando explicar exatamente isso pro meu grupo de RPG, no qual sou a única mulher. Houve até partidas que eu me desinteressei pelo jogo, e eu tentei explicar sobre isso ao mestre, o post foi muito útil pra que eles entendam que não é frescura minha, mas sim uma forma de visualizar melhor o jogo e os personagens.

    • menina-gato

      setembro 14, 2011 / at 9:07 amsvgResponder

      Eu te entendo…

  • rsemente

    setembro 14, 2011 / at 10:13 amsvgResponder

    Agora entendi por que nunca uma mulher jogou mais de uma partida de RPG com meu grupo, e por que tantas outras nunca nem jogaram!!!

    Muito bom, vou me atentar a isso da próxima vez que uma dama estiver interessada em jogar RPG.

    • menina-gato

      setembro 14, 2011 / at 11:26 amsvgResponder

      Tenta mostrar imagens, argumentar com mais apelo. Muita gente gosta de um estilo mais narrativo de jogo. Até mesmo meninos 🙂

  • Rodolfo Oliveira

    setembro 18, 2011 / at 11:10 pmsvgResponder

    Essa é a velha batalha do hack&slah contra o roleplay né… um jogo com descrições ricas para um grupo que só quer “matar o monstro, pegar o tesouro, comprar itens mágicos, matar monstros mais fodas, pegar mais tesouro,…” é extremamente boring e como homem tende a querer mais porrada é normal uma mulher odiar D&D já que normalmente (infelizmente) quem joga esse jogo curte mais é a porrada mesmo…

    Acho que vai do gosto de cada um mas se estamos tentando jogar RPG seria interessante ter um mundo complexo e intrigante em que o recurso do dado fosse realmente utilizado apenas quando realmente necessário… afinal para matar e pilhar não é necessário quase nenhuma interpretação né…

    fica a seguinte dica para aqueles que querem ter esse tipo de mundo sem muito frufru: a série de livros ou a série de tv A Song of Ice and Fire (As Crônicas de Gelo e Fogo) que começa com o livro A Game of Thrones (Guerra dos Tronos). O livro/série é intriga política/romântica/social do começo ao fim com uns poucos combates estratégicos que sempre são de tirar o fôlego! O filme O Conde de Monte Cristo e a série de filmes Piratas do Caribe também tem um pouco dessa intriga mas é mais focado nos combates…

    p.s.: não quis dizer que jogo nenhum dos supra-citados é frufru! só estou dando um norte para quem possa não ter idéia de onde tirar referências!

  • Aparecido

    setembro 27, 2011 / at 10:48 pmsvgResponder

    Acabo de descobrir, após ler este post, que nunca poderei narrar numa mesa com mulheres.

    • ML

      setembro 28, 2011 / at 12:04 amsvgResponder

      que isso, Aparecido, os ajustes são mínimos e realmente tornam os jogos mais divertidos para todos, não só as garotas!

  • Ezer

    outubro 6, 2011 / at 5:23 pmsvgResponder

    Acho que é muito mais difícil “a arte de achar garotas pra jogar”. 🙂

  • jv

    junho 14, 2012 / at 10:01 amsvgResponder

    Gostaria que postasse uma aventura nesse estilo. Ou pegar dicas com o mestre que fez essa aventura(foi tudo planejado ou o jogo foi correndo espontaneamente). É que eu estava querendo mostrar pra minha esposa esse lado mais dramatico do RPG. Tentamos jogar algumas vezes só que sempre acabo virando o jogo para um lado mais de aventura e luta e eu vejo que ela logo se desinteressa 🙁 . gostaria de ver uma aventura simples (jogada em poucas horas, mas que fosse focada em interpretação). Já li muito sobre narração (principalmente nos livros da linha storyteller/ling) só que acho os temas sempre muito pesados (por causa da minha religião) só que quando vou botar isso na prática o que me vem à cabeça é desafios aventureiros (para testar as habilidades dos pcs) e lutas.

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