As aventuras de Conan em RPG
“E então veio Conan, o cimério, de cabelos negros, olhos sérios, espada na mão, um ladrão, um saqueador, um assassino, com uma melancolia enorme e alegria jubilante, a esmagar os tronos de jóias da Terra sob seus pés em sandálias.”
— Robert E. Howard, A Fênix na Espada, 1932.
Com o novo filme estrelando Jason Momoa, os fãs de fantasia têm mais uma chance de revisitar a saga de Conan o Bárbaro. Não sei vocês, mas Conan foi minha introdução nesse mundo de heróis de capa e espada contra um mundo de horrores. De certa forma, foi ele quem me fez jogar RPG… E é uma boa hora para voltar a jogar com bárbaros, piratas e ladrões!
As revistas desenhadas pelo John Buscema, e principalmente as capas do Joe Jusko para A Espada Selvagem de Conan, formaram meu imaginário sobre fantasia que depois seria tão importante quando eu descobri Dungeons & Dragons.
Só quando cheguei à faculdade fui ler Robert E. Howard, o criador de Conan. Sério, se você nunca leu isso largue esse artigo e comece agora! Conan é um personagem do lado negro, com um passado enigmático e um futuro de glórias (desde o começo sabemos que ele um dia será rei). E as histórias dele são cheias de criaturas exóticas e alienígenas de tempos imemoriais, muito no estilo de H. P. Lovecraft nos ciclos de Cthulhu.
Para quem já leu as histórias originais, a melhor dica para continuar é ler as histórias mais modernas, principalmente as que o Robert Jordan organizou. Ele é o autor mesmo da série Wheel of Time.
Os filmes de Conan com o Arnold Schwarzenegger são estranhamente legais, apesar da atuação de poste do governator. Mas isso se deve muito ao roteiro, escrito por Oliver Stone e John Milius, o gênio por trás da história, e pela trilha sonora sensacional. O segundo é mais uma aventura de D&D, bom mas não surpreendente.
Esse último filme novo, se você ainda não viu, vale a pena. Como fanboy que sou, já estava preparado para achar o filme horrível, principalmente porque não gostei nada da não-atuação do Momoa em A Game of Thrones. Mas apesar do personagem na minha opinião ser outro, e não o Conan, o filme ficou bem legal e cheio do tipo certo de ação para quem gosta de fantasia.
Conan RPG
Toda essa introdução é para te dizer o quanto eu gosto muito de Conan e explicar por que já tentei jogar todos os RPGs que existem para isso.
Apesar de ter lido todas as aventuras de D&D Conan, meu maior sucesso com isso foi jogando com as regras de Lankhmar, um cenário de D&D com pouca magia e baseado nas histórias também geniais do Fritz Lieber (se não leu, esse é o assunto para uma próxima resenha). Para quem quiser uma versão fiel a D&D, vale a pena ver a The Age of Conan, da Elf Lair Games, e consultar o The Hyborian Age.
Muito antes da onda D20 e open system, a TSR já tinha alguns subprodutos do D&D, e um deles era o Conan RPG, de 1985, lançado depois de duas aventuras básicas para D&D e que ainda teve três outras específicas. Eu tentei todas, mas são um pouco limitadas, com muito cenário de viagem e pouco foco no terror que eu sempre quis para as histórias.
O sistema de talentos e fraquezas, assim como o de dano (damage) e ferimento (wound), surpreenderia alguns que acham que a TSR nunca teve essas coisas inventadas por outras companhias. Mas é o sistema do Marvel Super Heroes e Gamma World, inventado pelo David “Zeb” Cook, e que por isso tem hoje o nome de Zeb’s Fantasy Roleplaying System, ZeFRS, que foi refeito na internet.
Esse RPG era da TSR mas não era bem D&D, porque o problema principal para um jogo das histórias de Conan sempre vai ser a mortalidade. Quem cruza o caminho de Conan nas histórias costuma morrer de um só golpe. Agora, como fazer isso com um grupo de D&D e ainda ser jogável ou divertido?
Medo, coragem e honra
Bem, eu descobri que é pela interpretação e boa vontade dos jogadores. Para jogar Conan você precisa saber que a morte está à espreita, e saber quando lutar e quando não lutar. Medo, coragem e honra têm de ser medidos, sempre.
Eu também li tudo do Gurps Conan, que publicou quatro aventuras. É uma pena que dessa vez a pesquisa e o texto não sejam tão bons como em outros Gurps. Talvez porque seja baseado mais no quadrinho e em histórias ruins que no Conan original. Essa é uma questão em Gurps, muitas coisas pecam por serem engraçadinhas. No mais, o sistema sofre pouca modificação, e a magia, outro problema em um RPG de Conan é querer ser um mago, é um pouco desbalanceada, o que faz crer que ela seja para NPCs mesmo.
O sistema D20 produziu o último Conan, que teve duas edições do Conan The Roleplaying Game, de 2003. Um desentendimento entre a Mongoose e os detentores dos direitos sobre Conan fez com que ele saísse de circulação, mas jogamos algumas partidas memoráveis.
O sistema é basicamente D20, mas baseado em pontos de Destino (Fate) e muita ênfase em maneiras de se fazer um “Sneak Attack”. O sistema de magia também é por pontos de feitiço em vez de memorização, mas geralmente uma única magia consome tudo o que um “mago” pode fazer.
A classe para magos na verdade é Sábio (Schoolar), e o sistema é todo baseado nas classes que a própria Mongoose já tinha feito, como Nobre e variações de Ranger. Como vocês sabem, D20 e D&D 3.x não são muito variados, mas o jogo tem um jeito certo e os livros são bonitos, recomendo as aventuras. Eles fizeram o The Road of Kings, uma enciclopédia de lugares, acontecimentos e NPCs do universo Conan que merece atenção.
Os RPGs Indies claro que têm contribuição nessa história, mas não joguei com eles. O mais famoso é Barbarians of Lemuria, que tem uma versão Grátis e uma versão Legendary. Ele usa Carreiras em vez de Perícias, o que torna o background mais importante, e resolve tudo com 2d6, o que deixa tudo bastante simples.
O outro é o novo Jaws of the Six Serpents, criado em cima do sistema PDQ (Prose Descriptive Qualities), que é focado em detalhes para interpretação em vez de atributos, e que tem um feeling Old-School D&D.
Por último, tem um jogo bem bonito sobre o tema, Age of Conan: The Strategy Board Game, feito em 2009. É uma guerra pelo controle do mundo entre os reinos da Era Hyboriana. No meio disso, Conan completa suas aventuras, às vezes ajudando um reino, às vezes arruinando outro. Ninguém controla o bárbaro, ou melhor, todos podem controlar ele durante o jogo. Alguns elementos são bem temáticos, e por isso mesmo é um jogo para fãs.
“I journeyed in Zamora, in Vendhya, in Stygia, and among
the haunted jungles of Khital. I read the iron-bound books
of Skelos, and talked with unseen creatures in deep wells,
and faceless shapes in black reeking jungles. I obtained a
glimpse of your sarcophagus in the demon-haunted crypts
below the black, giant-walled temple of Set in the hinterlands
of Stygia, and I learned the arts that would bring back life
to your shriveled corpse” – Conan the Conqueror, 1935.
E um pouco da trilha sonora do Basil Poledouris para Conan:
Rafael Thomaz
Muito show o artigo!!!! Eu comecei a ler os quadrinhos do Conan no começo da década de 90 pouco antes de conhecer o RPG. Eles foram a inspiração para meus primeiros personagens e aventuras. Bons tempos…
Thiago
Opa! Muito bom! Qual desses sistemas vc recomendaria para jogar hj um rpg sobre conan?
ML
O próximo que quero tentar é Jaws!
Mas se fosse jogar hoje seria Conan d20. Provavelmente seus jogadores já conhecem D&D, então seria mais fácil.
Agora, se estiverem com tempo de aprender regras, ZeFRS é uma ótima pedida! Merece uma chance.
Janary
Texto divertido, rechado de informações e curiosidades, além de ser sobre um tema fantástico: o que mais um artigo deve ter?? Excelente do começo ao fim! Conan sempre foi uma grande inspiração e ótima leitura. Sempre achei que o mundo do Conan era mais legal para RPG (em relação a magia e monstros bizarros) do que 80% do que tem, por aí.
SSS
Outro fato interessante é que, além das duas aventuras de AD&D Conan, foi publicada também uma aventura da Red Sonja. Assim como as aventuras do Conan, a capa do livreto tinha uma foto do filme dos anos 80, e a arte do interior era semelhante aos quadrinhos (não à Red Sonja da literatura, que não vivia na era Hiboriana).
Vale notar também que o Conan AD&D, apesar de ter regras do famoso sistema, tinha modificações importantes, especialmente no tocante à magia – muito mais limitada -, à recuperação de ferimentos – bem mais rápida que a regra normal, já que magia divina é bem mais rara -, e na nova regra de “pontos de sorte”, pontos que poderiam ser usados para realizar feitos extraordinários.
Cheguei a mestrar parte de uma aventura com essas regras, achei bem divertido e interessante. Mas eu sou fã de AD&D, então minha opinião é parcial. De repente valeria uma adaptação para Old Dragon!
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